Notícias CCMQ recebe espetáculo Corpo Casulo

Corpo Casulo. Foto: Gabz404

CCMQ recebe espetáculo Corpo Casulo


No domingo, 25/02, às 19h, o Teatro Carlos Carvalho, da Casa de Cultura Mario Quintana (CCMQ) recebe sessão única de Corpo Casulo, espetáculo que tem como tema central a transgeneridade e é encenado por Gustavo Deon, uma pessoa transmasculina. Os ingressos antecipados podem ser adquiridos em  https://abre.ai/ingressoscorpocasulo

Gustavo é artista, formado em Teatro pela UERGS (Universidade Estadual do Rio Grande do Sul) e produtor cultural, com foco no desenvolvimento de projetos de impacto social que acessibilizam arte, cultura, educação e acolhimento.

A narrativa do espetáculo apresenta as vivências de um corpo transmasculino, costuradas a histórias de outras pessoas trans e à Memória Social na qual vivemos culturalmente. O trabalho é um monólogo, construído a partir do conceito de Biodrama, de Viviana Tellas, e de experimentações corporais fundamentadas na performance e inspiradas na dança contemporânea. 

A linha dramatúrgica é construída a partir das fases da vida, iniciando na infância, passando pela adolescência e fase adulta – em diálogo aos estágios da metamorfose. Para a infância, onde os questionamentos de gênero já estão presentes, a cena é trabalhada em cima de textos do escritor e filósofo trans Paul Preciado, que elabora sua pesquisa tensionando as imposições de gênero, antes mesmo do nascimento de uma criança. Na dramaturgia, a adolescência carrega o peso de uma ferida aberta, onde são expostas as vulnerabilidades, medos e perdas causadas por uma violência social “invisível”. A partir do cansaço da tentativa de moldar-se, o corpo agora encontra a infinidade de ser para além da “norma” e identifica-se com a transgeneridade e com tudo que pode e quer ser. A partir desse momento a dramaturgia mostra os processos, não como uma regra, de um corpo em transição. Para além do clichê da exposição das violências e sofrimentos vividos por uma pessoa trans, o texto exibe as sutilezas cotidianas, celebra sonhos e desejos, vibra o orgulho e o amor, possibilitando a criação de novas imagens de futuros e de representatividade para esses corpos. 

As cenas realçam as nuances da trajetória do ator em seus diferentes “estágios” de transição, propondo ambientações que transitam entre o cômico, a franqueza acerca de sua identidade e a visão sobre ela, costuradas com a poesia, que abre espaço para linguagens mais abstratas e metafóricas. A pesquisa para essa construção se dá em conjunto com a produção de pessoas trans que pensam sobre gênero dentro da literatura, filosofia, psicologia e teatro, tendo referências como Paul Preciado, Jota Mombaça, Letícia Nascimento, Dodi Leal e Jonas Maria.

No Brasil, a expectativa de vida de uma pessoa trans é de 35 anos. Segundo pesquisas, entre os anos de 2017 e 2022, período em que a ANTRA – Associação Nacional de Travestis e Transexuais passa a fazer o Dossiê de Assassinatos contra Travestis e Transexuais Brasileiras, foi levantado um total de 912 (novecentos e doze) assassinatos de pessoas trans e não binárias brasileiras. Sendo 131 casos em 2022; 140 casos em 2021; 175 casos em 2020; 124 casos em 2019; 163 casos em 2018 e; 179 casos em 2017 (o ano com o maior número de assassinatos de pessoas trans na série histórica). O Brasil é líder no ranking de assassinatos de pessoas trans pelo 15º consecutivo. 

Segundo o ator, após analisar todos esses dados que afetam diretamente a população trans, o espetáculo busca alternativas para diminuir esses impactos e de alguma forma, contribuir para a visibilidade da pauta. “Visibilidade para nossa existência, visibilidade para nossos talentos em diferentes âmbitos sociais, visibilidade para toda a potência que podemos ser. Queremos alcançar tudo que podemos e que temos direito, através da circulação de criações provocativas com senso de responsabilidade, compromisso social, identificação e denúncia”, afirma Deon. 

O espetáculo conta ainda com a co-direção de Luka Machado, atriz, produtora cultural, gestora de projetos e comunicadora, trabalha no desenvolvimento de projetos artísticos e culturais com foco no acolhimento, visibilidade e ativismo LGBTQIAPN+, com foco na comunidade trans e travesti. 

O espetáculo é uma realização do INTRANSITIVO, coletivo formado integralmente por artistas trans, com diferentes linhas de pesquisa e áreas de atuação. Em 2021, o coletivo produziu e dirigiu o filme documentário “INTRANSITIVO: Um documentário sobre narrativas trans”, que traz recortes de vida de oito pessoas trans, de diferentes pontos do Rio Grande do Sul. O documentário é pioneiro em ter 100% de protagonismo trans, em frente e por trás das câmeras, com objetivo de quebrar estigmas e combater o transfake (prática transfóbica que afasta pessoas trans do mercado de trabalho e contribui com a transfobia estrutural), com participação no Festival Internacional Queer Lisboa 2023 e Fabulous Independent Film Festival FIFF 2023 – Flórida.

Através das ferramentas de diálogo que o coletivo encontra na arte, o espetáculo busca proporcionar momentos para sentir, na tentativa de contribuir na construção de uma sociedade onde os direitos das pessoas trans sejam respeitados, os corpos naturalizados e a história lembrada.

A CCMQ é uma instituição vinculada à Secretaria de Estado da Cultura (Sedac) e tem o patrocínio direto do Banrisul. 

Serviço 

Corpo Casulo
Quando: 25/02/2024, domingo
Horário: 19h
Local: Teatro Carlos Carvalho na Casa de Cultura Mario Quintana (Rua dos Andradas, 736 – 2o andar – Centro Histórico, Porto Alegre)
Ingressos: R$40 (inteira) / R$20 (meia entrada) à venda em https://abre.ai/ingressoscorpocasulo
Classificação etária: 12 anos
Duração: 50 min
Acessibilidade: Intérprete de Libras; acesso para PCD’s

SINOPSE
Um corpo inicia um processo de metamorfose – tece seu próprio casulo e se desprende do que não lhe cabe mais. Se refaz e se redescobre. Um corpo contador de histórias; histórias de quem veio antes, de si e de muitos outros, entrelaçadas pela vivência da transgeneridade. Um corpo que para tecer novos futuros, revive a infância, os questionamentos, as dores e os anseios de habitar um lugar de quem não é bem vindo, expondo as teias da violência no país que mais mata pessoas trans no mundo. Um corpo que carrega sonhos autênticos e desejos leais e que se encanta a cada nova transformação de si. Um corpo história. Um corpo com orgulho. Um corpo vivo. Corpo casulo.” 

FICHA TÉCNICA:
Direção: Gustavo Deon e Luka Machado
Elenco: Gustavo Deon
Iluminação e operação de luz: Tiago Bayarri
Trilha sonora: Ayô Tupinambá
Operação de som: Vigo Cigolini
Produção: Gustavo Deon e Luka Machado
Produção de Palco: Anne Plein
Assistência de produção: Sue Gonçalves
Redes sociais e assessoria de imprensa: Luka Machado
Fotografia: Gabz 404
Bilheteria: Anne Plein
Realização: INTRANSITIVO

Palavras-chave: Artes cênicas, Corpo Casulo, Mês da visibilidade trans.


Publicado: 20/02/2024